15 julho, 2009

Cumprir os desejos

Obrigado por me teres chamado. Só o chamamento leva à ressurreição de um homem que vive através dos outros, sem deixar de ser ele mesmo. E é sempre um prazer ouvir esta voz que pede ajuda, meu pupilo, meu mestre.

Conheci-te um dia por acaso, quando escolheste como teu caminho a nobre arte do teatro. E fui parar às tuas mãos. Que nem barro, moldaste-me a ti. Mas não me mudaste. Quem te mudou fui eu.

Sei-te grato pelos meus ensinamentos. Aliás, que mais poderia eu fazer senão ensinar-te. Nasci há mais de um século atrás. É minha obrigação ter alguma sabedoria de velho. Porém não sou como os outros velhos. O renascer em ti rejuvenesceu-me. Fisicamente, psicologicamente, almamente. Espiritualmente não. Isso é coisa de gente morta.
Este renovar dos poros, do sangue e das ideias transportou-me do 19º século para este actual. Não fazia sentido um renascido pelo palco se manter em tempos tão antigos. Deixem-me ser agora, por favor. Quero ter as palavras do hoje, ver o mundo de hoje, ser hoje. O passado é apenas exemplo e experiência, não realidade. E nisto te agradeço, que me fazes viver mais que um ser humano comum. Sou um privilegiado. Tanto enquanto ser humano que muito dura, como enquanto personagem, que me trataste como nenhuma outra. Talvez não tenha sido a tua maior realização, mas fui o teu maior passo.

Passeemos juntos. Aprecio tanto trocar saberes contigo. E agora que precisas de mim, aqui estou. Sou como o génio da lâmpada. Só que não concedo desejos. Tenho-os.

E é isso que tanto me aproxima de ti. Somos gente com desejo de boa mudança e permanência não tola, tudo dirigido para o cenário utópico da vida e sociedade. Queremos que isto seja perfeito, quando a imperfeição é a nossa cicatriz. Cicatriz que nem as aparências curam (e acredita que tanto no meu século, como no teu, estas existiram e existem, respectivamente. As pessoas não mudam.). Cicatriz incurável, mas que tem de ser desinfectada.

Lutemos juntos. Através das palavras e acções. Do pensamento. Através do mais que podemos. E por favor, junta os teus a esta batalha pseudo-intelectual e prática , que eu não posso juntar os meus. Os antepassados do hoje estão mortos. E antes que isso a nós nos aconteça, façamos algo juntos.

A morte chega cedo e a vida é breve. E tu não és como eu, uma personagem de teatro pronta a ser ressuscitada por um actor amador dedicado. És efémero.

Chegou a hora, meu pupilo, meu mestre.

Leonardo Goring

2 comentários:

  1. É grande o meu prazer em o ter entre nós caro Leonardo.

    Bem vindo ao grupo!

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  2. Obrigado Leonardo, pela tua presença constante, quando te chamo. És mesmo um ser acolhedor.

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