11 julho, 2009

A Contradição do Hipócrita

-Não. O comunismo é terrível!
-E porque dizes isso? Admito algumas falhas. Não há nada perfeito, mas...
-O comunismo é mau para a religião! Diz que é o ópio da sociedade! E Deus e a verdade devem ser espalhados pelo mundo...
-Oh, não é bem assim...
-Claro que é. E o pior do comunismo é que é injusto!
-Injusto? Espera...isso não faz sent...
-Faz. No comunismo, os rendimentos repartem-se de igual maneira, por mais que as pessoas trabalhem! E uma pessoa que tem imenso, por mérito próprio, fica com um nível de vida igual a esses drogados que andam aí, e essa gente toda...
...
Não vale a pena continuar a conversa. Já leram o que basta para prosseguir.

E não estou aqui para defender o comunismo, nem a religião. Pelo menos por agora. Estou aqui para vos mostrar o ponto de vista de um católico capitalista, e pensem se por acaso faz sentido. Apenas preciso de mostrar com que argumentos este defende os seus credos religiosos e económicos, e afirma convictamente que o comunismo é a peste do mundo, e deve ser a todo o custo ser evitada.

Para que conste, a conversa acima é resultado de um conjunto de discussões com uns quantos jovens santos católicos, tão fiéis à palavra de Cristo, quanto Dalila foi a Sansão.

Atentemos. Um dos principais argumentos anti-comunismo, para os que batem no peito todas as missas, com humilde arrependimento, é o facto deste não ser propriamente um apoiante da religião. Está bem, até aqui percebo. Estão a defender os seus profundos ideais, e se o comunismo vai contra a sua política espiritual, então defendam-na que aceitamos. Neste caso, a religião é a cria, o crente é a mãe que a defende dos males externos. Aceitável.

Porém, quando este primeiro argumento se cruza com o segundo, surge a palavra contradição. ora, este segundo argumento anti-comunismo para um católico, que por ser segundo não o impede de ser o mais usado, tem que ver com as noções capitalistas tão em voga hoje em dia. Trabalho, mérito, sobe um degrau, mais trabalho e mais umas coisas pelo meio, mais dois degraus. E isto até lá acima. É o capitalismo, quem sou eu para discuti-lo. No entanto, um católico deveria discuti-lo. Um católico que tanto defende e cumpre a sua religião torna-se hipócrita quando defende que uns devem viver em cima, e os restantes em baixo destes. É hipócrita quando acusam o comunismo de defender a má da igualdade, quando o próprio Jesus Cristo a prega como não prega qualquer outra coisa.

Algures na Bíblia "Os que estão à frente ficaram atrás, e os que estão atrás ficarão à frente". Algo assim.

E imensos versículos sobre a igualdade, sobre a luta contra as riquezas e materialismo. Tantas palavras sagradas, e que supostamente seriam para cumprir pelos jovens católicos extremistas, sobre a importância de ajudar os outros, de repartir os rendimentos. Foi na Bíblia que nasceu a segurança social!
Basta procurarem que encontram.

Mas os católicos de hoje cospem nas palavras de Jesus, porque não lhes convém. Apenas lêem literalmente os que lhes apetece. Usam a importância da diferença entre X e Y para desacreditar o comunismo que ofende a religião, quando o comunismo está mais conforme o cristianismo que eles!

...

-O comunismo é mau para a religião. Meu rico catolicismo, minha querida Bíblia! E o comunismo é mau, porque defende a igualdade extrema.
-Mas a Bíblia defende a igualdade extrema! Os teus argumentos até podem ser verdadeiros, estar certos ou errados, mas tu não os podes usar em conjunto! E são
os únicos que usas.
-Ah mas todos têm de conhecer a verdade. Amen! E uns trabalham mais, logo têm de ter mais! O comunismo é mau.
-Não percebes mesmo, pois não? Ou defendes o cristianismo, ou defendes o capitalismo!
-Defendo os dois!
-Não me venhas dizer que o capitalismo é mais santo que o comunismo.
-Digo.
-Vai ler a Bíblia...
-Sei-a de cor.
-Se sabes, então aprecias a noção de igualdade e justiça SOCIAL...
-Não.
-Ok. Nunca vais aprender.
pessoa Ix

2 comentários:

  1. Neste caso não podemos dizer "perdoa-lhes senhor, que eles não sabem o que fazem" ou que o dizem. O que eles não querem é perceber, como nunca lhes faltou nada não precisam de se preocupar com aqueles que tem falta de quase tudo. O maior cego é aquele que não quer ver, e o maior hipócrita é aquele que diz acreditar em certas doutrinas, como a católica, quando na realidade escolhe o que lhe convém: desrespeita, viola, mata, é injusto e ordinário mas isso não importa porque vai à missa todos os domingos e confessa-se todos os dias!
    Não digo isto porque sou contra a religião, simplesmente não acredito em espiritualidades, mas aqueles que acreditam não podem ao menos fazer um esforço para cumprir os principios em que supostamente acreditam e defendem?

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  2. Camarada Fratírio Telmo14 de julho de 2009 às 18:09

    Todos sabem, não é novidade nenhuma, que não sou religioso e tão-pouco católico. Apenas sou baptizado e não me lembro do acontecimento em si, por ser tão novo na altura. E ainda bem que assim é, porque se hoje me lembrasse desse dia, sentir-me-ia tão desajustado perante um tipo de promessa que pareço ter feito naquele dia, que certamente daria por mim numa baralhação muito pouco agradável. Porém, apesar e não acreditar e discordar até com grandíssima parte dos fundamentos e princípios da Igreja, também é certo que o modo de vida que Cristo pregou, e não as vozes que hoje dizem que correspondem à dele, não foge muito àquela em que eu acredito e que vou defendendo da maneira que posso, por exemplo com esta blogue. Para mim, isso não me faz, nem em parte, católico ou mesmo cristão: acredito mais na purificação da alma ao ver o mar, ao respirar ar puro, ou mesmo ao viajar do que naquela que dizem que a igreja providencia quando nelas falamos com Deus. Na época de Cristo e até hoje, as suas ideias mereceram atenção, polémica e milhões e milhões de fiéis, não havendo fim à vista para todo este fenómeno. Na minha perspectiva de quem espera por uma revolução e pela afirmação final dos seus princípios, esse facto aumenta a minha esperança.

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