14 julho, 2009

Virgílio Corvo

Encontro-me actualmente sentado na minha poltrona e só encontro a saúde mental quando fumo o meu charuto cubano. Até ao momento em que a doce névoa branca me cobre o rosto, sinto-me revoltado e ateado de uma raiva que me transcende, que engloba todo o antro de porcos imundos que só querem encher os seus bolsos e a vagina de outrem. Sinto os meus esforços de contacto humano como vãos e sem sentido, quando nada me responde e me respeita, e me cospem e atiram para uma valeta imunda, repleta de vermes rastejantes que consomem abruptamente o cadáver de outro sem-vida. Eu sou Virgílio Corvo, se bem que nestas alturas, quem pode dizer com certeza quem é?

O meu franzino ser nauseado fica ao relembrar-se de todas as franquias que se achegam aos afortunados que paupérrimos de espírito são, e que por missarem frequentemente sofrem de grave caso de metamorfopsia, pois ao se verem ao espelho pensam ver o Papa. Pecam, confessam, e livres de culpa estão. Enojo-me com tais Pilates! A bílis que por mim se liberta regozija com sentimentos tais e todo o corpo me arde, contorcendo-me e fechando os olhos procurando esquecer-me de tais males. Quando os abro, no mesmo sítio me encontro e o fragor que ininterruptamente me atinge liberta pensamentos pecaminosamente iracundos na minha alma. Para o quinto círculo do Inferno de Dante irei, ocorre-me. Mas de facto poucos serão os círculos dos quais não sou merecedor…

Sou descabelado, desconjuntado, descrente, desconcorde, desconsolado, mas nunca desconcordante ou desconexo! Tudo sou, mas cumpro o que sou e o que o que acredito me ordena ser. Não posso com os energúmenos que apelam a doutrinas igualitárias, enquanto agem de forma elitista! Não nos encontramos num território irredento, sabemos bem as fronteiras que delimitam o racional, e as que delimitam o humano, e sabemos bem de que lado da fronteira se encontram estas atitudes: do racional inumano!

Eles querem tudo! Eles comem tudo! Eles comem o que defecam para que nada sobre para outros! E nem capazes de o admitir são… Escondem-se atrás de Quem-Tudo-Pode e confessam-lhes os seus pecados, sentindo-se seguros, mesmo quando o seu Livro Sagrado condena às mais vivas chamas do Inferno aquilo que eles personificam.

Por não compreender o incompreensível execrando na vida sou. Tanto tenho a dizer, tanto que quero falar, que esta não será a ultima vez que ouvirão a minha inaudível voz!
Não pretendendo exacerbar opiniões, mas alertar para o intolerável, esta é a minha exegese.

Virgílio Corvo

2 comentários:

  1. Olá Virgílio Corvo! Acho-te com umas ideias bem interessantes.

    Gostei particularmente da menção à "Confesso", esse ser de soltar os nervos ao próprio Buda. E a menção ao "eles comem tudo". É revoltado o senhor, e gosto muito.

    Acho uma certa piada ao tom épico com que se dirige aos seus leitores. Demasiado intelectual para mim. Sou uma pessoa muito livre. Tanto eu, como todos os outros nomes que adoptarei neste blogue.

    Prazer ;)

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  2. Camarada Fratírio Telmo15 de julho de 2009 às 10:03

    Bem... o senhor Virgílio faz exactamente neste blogue aquilo que todos nós tentamos, mas de uma forma mais extrema, que é revoltar-se, procurar os motivos que aos problemas induzem, e ainda, em tantos casos quanto possível, solucionar o assunto que nos preocupa com alguma resolução teórica que cada cidadão seja capaz de concretizar.

    Já tinha afirmado: esperava a chegada do senhor Virgílio (se era Corvo ou não era Corvo já não era da minha conta)com bastante ansiedade e vejo agora a minha ansiedade lograda. Posso dizer que valeu a pena aguardar.

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