Escrevo este texto a todos vós, eleitores no próximo escrutínio para a Assembleia da República, no dia 27 de Setembro. Nos últimos tempos, e também de futuro, tomei e tomarei contacto com todas as informações dos vários partidos políticos portugueses. De todos os partidos que até ao momento publicaram os seus programas de governo, li cada um com extrema atenção, para que qualquer juízo não fosse falhado ou injusto. Este texto é uma dissertação, o máximo completa, sobre muitos aspectos que me parecem úteis que todos os portugueses conheçam e que poderão ajudar a tomar uma posição equilibrada e de acordo com as convicções de cada um acerca do que é e será melhor para o nosso país. Os ataques são dirigidos ao PSD; porém, todos os argumentos que vos apresentarei serão acompanhados da respectiva justificação.
Em primeiro lugar, preciso de frisar que sou a primeira pessoa a concordar que um mundo governado por mulheres seria um mundo melhor na maior parte das questões: as mulheres, no seu geral, possuem uma sensibilidade e uma intuição mais vastas do que os homens, em temas como o ambiente, a família ou as dificuldades financeiras de algumas camadas da sociedade. Para os defensores desta teoria, em primeira análise, a líder do PSD pareceria a melhor figura em quem depositar o voto de confiança. No entanto, trata-se de uma mulher que foge aos requisitos que anteriormente apresentei. Senão vejamos:
· Manuela Ferreira Leite mostrou-se já contra a lei que obriga a igual representação parlamentar entre homens e mulheres, considerando que o país não necessita de uma maior representatividade de mulheres nos seus órgãos de soberania;
· Ferreira Leite apresentou já o seu desagrado, assim como concorda com o veto de Cavaco Silva, no que respeita à lei das uniões de facto: uma família deve, na sua opinião, durar do casamento até à morte, sem que duas pessoas se possam simplesmente juntar numa vida a dois sem burocracias suplementares;
· Ferreira Leite discorda, igualmente, da nova lei do divórcio e do aborto: na sua opinião de “mulher”, os casais que pretendem a separação ainda devem estar sujeitos a batalhas judiciais para repartir os bens, sacrificando um laço de amizade que poderia manter-se após o divórcio e condenando os filhos do casal a um sofrimento que pode, com a nova lei, ser mitigado;
· Por último, a líder do PSD julga que o endividamento externo se resolve com a diminuição dos subsídios, nomeadamente de desemprego, agravando as condições de vida de cada vez mais portugueses e portuguesas, em vez de, por exemplo, apostar nas energias renováveis, as quais evitariam as importações avultadas de petróleo e gás natural.
Em resumo, Manuela Ferreira Leite julga possível pôr termo a uma crise económica instalando, no seu lugar, uma crise social. A qualquer um creio que isto não parece viável, ainda mais se nos apercebermos de que as grandes fortunas continuam a surgir em Portugal, pelo que o dinheiro para resolver a crise económica poderia partir daqueles que o têm e não daqueles que nem emprego têm.
Recordemos um episódio histórico e a sua resolução para melhor entendermos a situação mundial da actualidade. A crise económica que mais se aproximou, nos seus contornos, àquela que hoje se vive foi a crise que se seguiu à crise bolsista de 1929. O fecho de fábricas conduziu a uma maré de desemprego; o desemprego diminuiu a procura de bens de consumo; a quebra da procura resultou em fecho de fábricas: um ciclo de agravamento sem saída fácil. Surpreendido com a situação, o presidente dos Estados Unidos da altura empreendeu um conjunto de medidas como as que Ferreira Leite propõe: redução do papel do Estado na economia, através da quebra dos subsídios, privatizações, assim como a suspensão das obras públicas em projecto. Na verdade, estas medidas conduziram a uma crise ainda mais profunda: a população americana viu-se desprovida dos apoios e das condições para sair da crise, o país viu-se a braços com uma enorme dificuldade de criar novos empregos e aumentar as produções, enquanto o Estado, cada vez menos interventivo, ia arrecadando dinheiro que para nada servia enquanto estivesse parado. O país parou: não havia dinheiro e, onde o havia, este não era movimentado. Ora, esta situação contornou-se apenas com a subida ao poder do presidente Roosevelt, que dirigiu medidas de nacionalizações, subsídios aos carenciados, a novas empresas, e também iniciou um regime de obras públicas que absorvia emprego e incentivava diversos motores da economia, ao mesmo tempo que criava as condições e infra-estruturas para maior crescimento económico no futuro, como se veio a verificar. Portanto, parece que só sairemos sãos desta crise mundial com políticas de maior abertura e investimentos, como a esquerda portuguesa (BE, CDU e PS) defende, em vez de cortes abusivos no papel do Estado, privatizando sectores essenciais da economia que deveriam ser de todos e não pertença dos grandes grupos económicos: sectores como a energia, as águas, a segurança social, a saúde e a educação.
Não se deixem enganar: a fuga a alguma má medida e mau projecto do governo PS não está no voto no PSD: para alguma coisa existem cinco, ou mais, partidos em Portugal. Se discorda com o regime de avaliação dos professores, não precisa de votar PSD; se discorda com o TGV, não precisa de votar PSD; assim como se concorda com os apoios sociais, com o investimento público e com novas leis sociais, não tem de votar PS. Mais de 30 anos de governos alternados destes dois partidos deveriam ter servido para a consciencialização dos portugueses. Os governantes apenas aprenderão a lição do nosso desagrado no momento em que se aperceberem de que os dois partidos maiores da política portuguesa têm, nas eleições que se seguem, menos votos do que em quaisquer eleições que tenham decorrido até à data.
Aproveitando a onda, permitam-me completar o raciocínio em relação à Câmara Municipal de Lisboa. Três medidas que Santana Lopes promete implementar caso vença as eleições autárquicas:
· Suspensão dos programas de requalificação urbana dos bairros históricos, como Alfama, Mouraria, Bairro Alto, Castelo ou Mouraria): o buraco do centro de Lisboa, cada vez mais deserto e sem oportunidades, poderá, com Santana Lopes, ver-se eternizado, para desgosto de todos os portugueses que ainda esperam ver estes bairros recuperados e com a aura de séculos passados;
· Suspensão das obras do Terreiro do Paço. Estas obras, das mais úteis que têm existido no nosso país, vêm fazer com que os esgotos de centenas de milhares de lisboetas não vão parar ao rio Tejo sem qualquer tratamento em ETAR’s. Santana Lopes promete cancelar estas obras, considerando-as inúteis e desestabilizadoras do trânsito na capital. Como se os automóveis fossem mais importantes do que o ambiente, numa cidade tão bem servida de transportes públicos como poucas outras na Europa;
· Por fim, construção de mais túneis para automóveis nas grandes avenidas de Lisboa. Lembram-se das obras do Marquês, de pouca utilidade, que sugou toneladas de euros de todos os portugueses e que contribuiu para o fecho de tantos negócios naquela zona de Lisboa… Pois bem, parece que, sob a alçada de uma administração Santana Lopes, vai poder reviver a sensação de uma Lisboa dos carros e endividada (ao mesmo tempo que alguém se sujeitará a levar com prédios de muitos séculos de idade na cabeça).
A decisão cabe a todos nós.
Camarada Fratírio Telmo
Aquela inspiração Margaret Thatcher que o actual PSD possui, que insisto repetir, também deve analisada a fundo...
ResponderEliminarMas isso fica para depois. Entretanto, interessados consultem os manuais de história, e vejam o que custou aos ingleses o fim do défice dos anos 80
Belíssimo artigo, já agora